terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Mandando um flanelinha se foder

Nerd X Negão

"Percebo que o sangue não vai ficar bonito na minha roupa branquinha… E todo mundo meio que na indecisão se valhia a pena parar pra ver a porrada iminente entre o nerd e o HOLLYFIELD ou era melhor ir logo arrumar lugar pra ver os fogos..."


"A última vez que precisei usar os meus poderes de X men, quer dizer, de ator, foi no 31 de dezembro. Faltava mais ou menos uma hora para os fogos. Eu passei na casa da minha mãe pra me despedir, desejar feliz ano novo e tal. Nessa época, ela morava na rua Miguel de Frias. (A rua tem um nome que era o prenúncio do que estava por vir… FRIAS!)

Não tinha onde parar, obviamente e eu rodei até que milagre: achei uma vaga! Era super-híper apertada, mas eu enfiei meu corsinha ali. Desliguei o carro e já ia saindo quando surge correndo, com a mão esticada na minha direção um NEGÃO. ( o negão era tão negão, tão grande, que só grafando assim, em caixa alta)

- É dez reáu!
- …
- Ô patrão! É dez reáu!

- Ok, na volta a gente vê. - tática de engabelamento do flanelinha. Página 66 do manual de sobrevivÊncia na cidade grande. Parágrafo dois item um:

“Não tendo outro jeito diga ao flanelinha que você vai pagar na volta. E ao voltar, diga que já pagou a um outro com a camisa do flamengo. Sempre vai ter um puto com a camisa do flamengo. Ele vai sair na porrada com algum outro cara e você sai vazado sem pagar a extorção.”

- Não, não. Na volta não, patrão. Paga agora ou não pára!

-Quê? - Nessa hora a Nivea já começa a apertar suavemente meu braço. Pelo apertão eu sinto que ela quer dizer em código: Fudeu. Pága, pága!!!! E eu começo a discutir: - Vou pagar na volta PORRA! - o porra foi assim mesmo, mais alto pra ressalttar meu aspecto agressivo. Pra enfeitar a ação, eu jogo a Nivea delicadamente para trás de mim, como convém um macho homo sapiens.

Deu certo. Começou a parar gente pra ver. Mas o NEGÂO não se intimidou, fato este que ME intimidou:

- Vai pagar ou eu vou TIRAR O CARRO!- Quando ele falou isso eu senti um: ” WAZZAAAAAAAAAP!” Era o meu neurônio do perrengue acordando de suas férias. Acordou e jogou dois litros de adrenalina no meu sangue.

- Tira aí pra eu ver, feladaputa! - Eu gritando. A nivea com dois olhões do tamanho de um prato.

- O negão não teve reação. Veio com o peito estufado pra cima de mim. Senti um clima “porrada” no ar. O povo em volta. Eu dou uma rápida olhada em volta e vejo gente com garrafa de champanhe, mulheres com flores, coroa com a cadeira de praia. Percebo que o sangue não vai ficar bonito na minha roupa branquinha… E todo mundo meio que na indecisão se valhia a pena parar pra ver a porrada iminente entre o nerd e o HOLLYFIELD ou era melhor ir logo arrumar lugar pra ver os fogos.

Na falta de uma atitude de macho, conveniente numa hora dessas, você deve apelar para o parágrafo três do capítulo “COMBATE SOCIAL” do manual que diz:

“Na hipótese de estar desarmado e em franca desvantagem, apele para perguntar ou afirmar perguntando, se seu oponente sabe ou tem alguma idéia com quem está falando. Numa sociedade violenta e corrupta, ser amigo dos caras que matam ou dos que mandam prender, ou melhor, dos dois, é seu trunfo pessoal. Se não funcionar, corra.”

Eu meto o dedo no peito do negão. Olhando para cima em 45 graus vejo olhos amarelos injetados, como os do Trex de Jurassic Park. O negão tem no barato dois metros de altura por 1,5 de largura. É uma versão nacional do Mike Tyson anabolizado.

- Você sabe com quem que cê tá falando ô PALHAÇO? ( acentue o finalzinho de modo que quem está do outro lado da rua escute e venha correndo pra ver. Também indica que você não tá com medo. Curiosamente, quanto mais medo você tem, mais alto é o finalzinho que você solta. Mas cuidado pro cagaço não transparecer, dixando um vibrato na sua voz. Se vc der sorte, será um meganha que vai vir ver o que tá pegando e tudo se resolverá na lei.

- NÂO! E você? VocÊ sabe? - Disse ele decidido. Eu já sentindo a porrada. A Nivea nesse tempo todo ficou falando alguma coisa que não entrou na minha cabeça pois todo os meus neurônios estavam carregando protocolos de combate, lutas e obviamente, fuga.
Eu lembro que pensei comigo mesmo: ” TÔ falando com um assassino, marginal, traficante…” Mas rapidamente chegou uma idéia boa e:

- Não sei não, mas acho bom você também não saber com quem você tá falando. - Falei rápido e alto de modo que ele não tivesse tempo de responder. Eu meto a mão no celular. O negão dá dois passos pra trás achando que eu ia sacar um ferro. (revólver) Ouvi um certo ruído da platéia. Os dois passo para trás do negão foram o elemento base no jogo de expressão corporal que sinalizava um detalhe. O negão se cagou. Por um segundo, mas se cagou. Era minha chance de crescer na cena:
Eu saco o celular e finjo discar alguma coisa. O negão um pouco distante, hesitante entre me enfiar a porrada e correr, pisa levemente para trás. Os olhos fixos em mim. Eu nele. O povo atento.

- …Sete, sete meia… - (Ao fingir digitar, comente em tom mais baixo os números finais, que dá mais credibilidade ao fato de ligar para alguém.)
-… - (Espere um pouco. Quase ninguém atende de prima. Isso também é legal porque dá uma certa aparência de suspense. Todo mundo fica ligadão esperando pra ver a merda se avolumar. Sobretudo o carioca. Carioca adora ver merda se avolumar, aí depois corre).

Alô?! ALÔ, HARAKIRI! HARAKIRI… O NEGÓCIO É O SEGUINTE! CHAMA A GALERA! PEGA TODO MUNDO E VEM AQUI PRA MIGUEL DE FRIAS! VEM QUENTE! ISSO. COM O BERRO! VEM AGORA? È. VEM COM A CAMINHOETE. MAS TRAZ TODO MUNDO QUE O BICHO VAI PEGAR! TEM UM CRIOULO AQUI… - Nesse momento o negão correu empurrando umas pessoas da “rodinha da porrada”. A Nivea com aquele olhar de “quem é Harakiri??”
Hehehe, nem faço idéia, mas imagino que um traficante muito do malvado pudesse ter um apelido assim. ( Pra quem não sabe, Harakiri é um dos mais intrigantes e fascinantes aspectos do código de honra do samurai: consiste na obrigação ou dever do samurai de suicidar-se em determinadas situações, ou quando julga ter perdido a sua honra. Significa literalmente “corte estomacal”. Esse suicídio ritual também é chamado de seppuku.)ou então um policial civil da tropa de elite. Daqueles que vem com uma ponto cinquenta pra resolver briga de trânsito.
Não me pergunte como eu tenho idéias assim bem na hora da merda. Isso simplesmente acontece. Mas a história não acabou:

O negão correu, correu bonito, e em seguida um outro negão lá do outro lado da rua gritou:
- Aí, seu problema é com ele ali hein? Eu não tenho nada a ver com isso aí não! - Vi na hora que minha atuação fora digna de pelo menos um Kikito. Mais do que apenas o negão havia se cagado. A rua estava a espera de um furacão de morte chamado Harakiri. Era o fim dos tempos. A hecatombe social. O PCC! E eu não poderia deixar barato, berrei:
- FODA-SE! VOU PASSAR O RODO EM TODO MUNDO! NÂO QUERO NEM SABER!!!!. - Antes da palavra “saber” o maluco também correu.
Entrei no carro e fui parar em outro lugar, afinal esses flanelinhas praticantes de extorção são cobras malditas. Pra voltar e arranhar meu carro corsa 96 não custa. Parei em outra vaga e fui andando de volta,. Ao chegar no lugar do meu entrevero com o negão, a rua tava qualhada de policial. Eram muitos… Deviam ser uns trinta. Todos olhando em volta, como se procurassem alguma coisa, ou alguém. Deviam estar procurando o Arakiri."

Fonte: Verdana
Li em: Outerspace, dica do Dr. Maeda

6 comentários:

Anônimo 13 de janeiro de 2009 às 09:44  

ah!ah!ah!ah!ah!ah!ah!

e o lance da nívia apertando o braço é impagável!

Carlos: 13 de janeiro de 2009 às 10:27  

uma aula de teatro e tanto, muito bom post.

Anônimo 13 de janeiro de 2009 às 13:28  

Cara, cai no seu blog sem querer... naquela de ir atrás de link de links, e era pra ver uma parada de 10 artistas que mais trabalham em holywood, o que nem valeu a pena, pq alem de ser uma tremenda bobagem ainda é falsa, pq o Will Smith fez uns 327 filmes de 2006 pra cá e nem tá ai na lista, heheheh

mas valeu a pena pela história do flanelinha.... isso é digno de a vida como ela 'deveria ser', ou comédia da vida privada ou mesmo minha nada mole vida....

vlw pela história, agora deixa eu ir trabalhar antes que tenha que virar flanelinha... tenho medo do harakiri.

Anônimo 13 de janeiro de 2009 às 18:58  

Bom pra cacete! Luto Muay Thai há um tempo mas ainda não botei flanelhinha para correr... por causa dos arranhões no carro.
abraço!

Anônimo 13 de janeiro de 2009 às 20:58  

Hahaha, muito boa a tua história cara, ri muito enquanto reinterpretava, haha.

Philipe 15 de janeiro de 2009 às 10:55  

OI O texto é meu. Será que dava pra colocar os creditos para o meu blog?
www.mundogump.com.br

A história original está lá na seção o melhor do mundo gump.
Valeu

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